quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Vinho Ideal e as Harmonizações Atuais


Todo vinho, por mais delicioso que seja quando degustado solo , está em busca de seu parceiro: o prato ideal. Ou seria ao contrário? Mas como saber se um não vai brigar com o outro? Não há respostas ou regras definitivas , mas há umas poucas indicações que, se seguidas , podem diminuir as chances de erro. O vinho certo deve realçar o sabor da comida e a comida pode trazer a tona características únicas de um vinho. Mas harmonizar de verdade pode ser muito simples ou extremamente complexo. Antes dos ventos da globalização, e com eles a fusion cuisine, baterem nas nossas mesas e criarem uma deliciosa confusão nas nossas escolhas podia-se usar grosseiramente as três surradas mas úteis regrinhas: carne vermelha com vinho tinto; peixe e carne branca com vinho branco; pratos típicos regionais com os respectivos vinhos locais.
Mas hoje tudo ficou mais complicado. Eu amo brincar com os limites ao misturar peixe cru com maionese ou abacate com carpaccio. Temperos orientais se encontram com a culinária mediterranica. Ao aplicar minhas técnicas quase sempre francesas, eu me aproprio das delicias das cozinhas mexicana, indiana, arabe, alemã, espanhola, chinesa, thai , japonesa, todas pertinentes à culinária italiana. O que me leva a avaliar que muitas vezes a combinação de ingredientes,molhos que acompanham e ou método de preparo podem ser muito mais importantes do que o ingrediente principal na determinaçnao do vinho ideal. Por sorte certas características da comida reagem com previsibilidade diante de elementos presentes no vinho. Os principais componentes do vinho (álcool, açúcar,ácido e tanino ) relacionam- se com os sabores básicos da comida (doce, azedo, salgado, amargo ) . A combinação perfeita vem a ser uma experiência gustativa mais sublime do que a comida ou o vinho sozinhos. Para harmoniozar vinho e comida podemos seguir dois caminhos distintos e opostos: o caminho do contraste e o caminho semelhança.no caminho do contraste procuramos no vinho os sabores e texturas que não estão no prato. Um prato com sabor terroso (trufas, cogumelos) contrasta bem com um vinho frutado. Há por exemplo o classico encontro salgado/doce .ex. roquefort com porto, fois gras com sauternes. gewustraminer bem frutado com salmão defumado.
Já o caminho da semelhança , o mais natural, intuitivo, envolve a escolha de vinho de algum modo semelhante ao prato. Um vinho herbáceo acompanha bem um peixe com ervas. Só um vinho encorpado para resistir a uma carne com molho mais pesado. Equilibrar o peso do prato com o do vinho. Normalmente a gradação alcoolica pode ser indicativa. quanto maior mais encorpado é o vinho. Ex. Um peito de frango no vapor é mais leve do que um coq au vin. É importante distinguir intensidade de peso tanto no vinho qto na comida. Ex. Um prato leve, frango ou peixe no vapor, mas muito condimentado. Outro ponto a se ficar atento com as semelhanças. Alimentos como nozes, por exemplo, que são tânicas, servidas com um vinho tinto muito tânico , tornarão o vinho tão adstringente que ficará quase intragável. O mesmo acontecerá com espinafre, aspargos, alcachofra.
Mas para escolhermos qual caminho tomar precisamos conhecer um pouco os elementos a serem avaliados tanto na comida quanto no vinho.

Acidez
Acidez de um prato ( vinagre, limão, mostarda, etc) deve ser igualada pela acidez do vinho. De outro modo o vinho parece insípido. Como regra os vinhos brancos são mais ácidos que os tintos. Vinhos jovens são mais acidos que os envelhecidos (e vinhos envelhecidos em carvalho são menos ácidos ainda). O vinho ácido parece menos ácido com alimento salgado ou ao contrario com os ligeiramente doces. Usando o caminho do contraste , vinhos ácidos contrabalanceiam excesso de gordura de um prato.
Sal.
O sal realça os sabores da comida. E é por isso que gostamos tanto dele. Do mesmo modo ele realçará o amargor dos taninos de um vinho. Tanino é a substancia que deixa nossa lingua seca, amarga, travada. Ele vem das cascas, sementes,hastes da uva e em menor medida dos toneis de carvalho. Comida salgada pede vinho frutado e pouco tânico, se for tinto. Aperitivos muito salgados, como azeitonas, pedem champanhe, outros espumanrtes secos xerez fino ou manzanila que trazem frescor ao paladar.
Doce
Mesma regra da acidez. O vinho deve ser ao menos tão doce quanto o alimento para não parecer insipido. Lembrete: se um tinto seco não vai bem com alimentos doces fiquemos atentos as muitas combinações de vinho doce que vão bem com alimento salgado.
Taninos.
Os taninos diminuem a percepção da doçura na comida e são mascarados/suavizados por pratos com proteina e gordura (bife/queijos). parecem mais adstringentes com comida condimentada e/ou muito salgada